POLÍTICA

Inovação na gestão e valorização de pessoas são marcas da desembargadora Maria Nailde Pinheiro Nogueira.

De aluna dedicada até se tornar a terceira mulher a presidir o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE), a trajetória da desembargadora Maria Nailde Pinheiro Nogueira tem sido escrita com protagonismo, determinação e diálogo. Tanto que sua gestão à frente da Justiça Estadual é definida pelo lema “Transformação digital aliada à humanização”.“Há 35 anos exerço essa profissão [magistratura] que eu me identifiquei muito. Uma profissão em que eu trabalhei não só o lado jurídico ao longo dessa minha caminhada, mas que sempre coloquei em prática as obras sociais”, afirma Nailde Pinheiro.Nascida em 5 de junho de 1957, na cidade de Aurora, no Cariri cearense, a desembargadora é uma das nove personalidades agraciadas com a Medalha da Abolição 2020-2022. A comenda, instituída em 1963, é concedida pelo Governo do Ceará em reconhecimento ao trabalho relevante de brasileiros para o Ceará ou para o Brasil. A solenidade de entrega será realizada no próximo 25 de março, dia em que os cearenses lembram a Data Magna do Ceará. O Estado foi pioneiro ao garantir em quatro anos antes do restante do Brasil, em 25 de março de 1884, a liberdade dos negros que aqui foram escravizados.Leia também: “Meu lema de vida é a busca pela Justiça Social”, afirma Socorro França“Eu me sinto muito honrada ao ser agraciada com a maior comenda do Estado do Ceará. Digo mais, [o reconhecimento] é fruto da dedicação e do trabalho de toda a minha vida. Esse reconhecimento eu partilho com todos que integram essa família do Poder Judiciário. Ao longo dessa minha caminhada, antes como professora, depois agora como magistrada, eu encontrei muitas mãos amigas, que fizeram com que eu fosse crescendo, alcançando os meus objetivos. O sentimento é de gratidão”, destaca.

Ao dar continuidade ao pioneirismo de magistradas cearenses como Auri Moura Costa que, em 31 de maio de 1939, foi nomeada a primeira juíza do Brasil, Águeda Passos Rodrigues Martins e Maria Iracema Martins do Vale, a desembargadora Nailde Pinheiro Nogueira conduz atualmente o Poder Judiciário do Ceará com a missão de assegurar produtividade e aprimorar ainda mais a prestação jurisdicional aos cearenses.

Para isso, a presidente comanda pautando o diálogo e a valorização dos servidores e magistrados, com destaque para o fortalecimento das lideranças femininas entre as 16 desembargadoras e 151 juízas que integram o TJCE. Liderando ações que fazem parte da construção de legado um trabalhado na esperança de que dias melhores virão. “Quero continuar à serviço da sociedade, estar ao dispor de todos, da maneira como sou; simples, aberta ao diálogo e disposta a ouvir. Buscando trazer para a sociedade essa paz que todos nós buscamos”, frisa a gestora.

Escrevendo a própria história

A magistrada descobriu logo cedo que desafios podem ser transformados em conquistas. Ainda na infância, ela precisou sair da cidade caririense para concluir os estudos em Fortaleza. Aliás, quando o assunto é a educação que recebeu, os olhos da desembargadora expressam toda a importância que essa fase teve – e tem – para ela. “Foi uma infância maravilhosa. Eu senti muito essa diferença quando cheguei em Fortaleza. As lembranças eram enormes. Muitas vezes eu chorava. Mas meu pai dizia: de lá nós já vimos, não vamos mais voltar para Aurora; aqui nós iremos estudar e trabalhar”, detalha.

Era uma criança de caligrafia bonita, muito elogiada pelas professoras, pontua Nailde Pinheiro, que até hoje recorda com carinho as escolas, professoras e escritores escritores fizeram parte da sua história. Ainda sobre o mundo encantado das letras, ela conta que se apaixonou pela poesia escrita por Cora Coralina, que a inspira até hoje, sendo citada nas falas e está presente nas citações da magistradas. “Vejo nessa poetisa uma humanização muito presente. Ela venceu muitos desafios na vida acreditando que com trabalho e estudo você consegue superar todas as dificuldades. Uma mulher que paulatinamente foi conquistando seu espaço, e venceu”, considera.A educação recebida foi tão inspiradora que fez a jovem Nailde ter o desejo de também ensinar. O sonho foi realizado quando ela começou a dar aulas nas séries iniciais do Colégio Agapito dos Santos. Mas foi cursando Direito, na Universidade Federal do Ceará (UFC), que ela encontrou o seu propósito de vida. “No decorrer desse curso, eu trabalhei [como escrevente] no Cartório Miranda Bezerra. Foi ali, trabalhando com processos e participando de audiências, que fui me encantando com o tema. Aquilo me inspirou a prosseguir estudando para ser magistrada. Para isso, eu tive que reforçar os meus estudos. Passei a trabalhar durante o dia, e estudava até alta hora da noite”, revela.

Após aprovação no concurso do TJCE, mais que atender cidadãos que possuíam processos judiciais – dedicando tempo e escuta –, a magistrada sempre buscou se aproximar das pessoas no exercício da sua atividade profissional, principalmente daquelas em situação de vulnerabilidade social. “Olhar o outro como irmão, estender sempre a mão, e se colocar na situação do outro”, ressalta Nailde Pinheiro, que ingressou na magistratura cearense em 1986, atuando nas comarcas de Marco, Jucás, Icó e Fortaleza.

Um detalhe que só os mais próximos à magistrada conhecem é que até hoje ela guarda a caneta com a qual assinou o primeiro termo de posse. “No dia em que assumi a magistratura, assinei com essa caneta que eu ganhei do Dr. Cláudio, que hoje é o titular da 4ª zona, e da Dra. Elenir. A partir daí todas as minhas conquistas que eu tive que assinar, aquela caneta sempre esteve comigo. Ela vem me acompanhando nesses 35 anos no Judiciário cearense”, revela.

Eleita em 2009 a desembargadora do TJCE, Nailde Pinheiro se tornou referência na condução de importantes momentos para a sociedade cearense. Um dos destaque foi o período em que presidiu o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), de 2017 a 2019, sendo responsável por preparar e conduzir o processo das eleições gerais de 2018, marcado pelas notícias falsas.

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